O Paraná é referência nacional na esgrima em cadeira de rodas, o que se pode constatar com as importantes conquistas nos últimos anos na modalidade. Entre as mais significativas, o fato de quatro atletas federados no estado terem defendido o Brasil nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Para criar esse polo de excelência, uma das principais instituições que desenvolve a modalidade é a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), que há quase 20 anos montava sua equipe da modalidade e que segue firme até os dias de hoje.
Essa é uma série especial, que apresentará projetos aprovados e incentivados pelo Programa Estadual de Fomento e Incentivo ao Esporte (Proesporte). Uma realização do Governo do Estado por meio da Superintendência Geral do Esporte.
Ao longo dessas duas décadas, a ADFP sempre manteve em seus projetos, incluindo os esportivos, o propósito de desenvolver a inclusão, a reabilitação (para quem passa a ter uma deficiência em função de um acidente, por exemplo) e habilitação (para aqueles que já nascem com alguma deficiência). Durante os primeiros anos, a falta de recursos fora o principal adversário nesse sentido. É o que destaca o coordenador de projetos e voluntário da ADFP, Fábio Ferreira da Silva Ingenito. Contudo, “o Proesporte abriu um novo leque de possibilidades”, completou.
O time de esgrima em cadeira de rodas da ADFP contou com projeto aprovado no primeiro edital do Proesporte, de 2018. A equipe é a base da seleção brasileira e conta com atletas com os principais títulos possíveis para a categoria, a exemplo de Jovane Guissone, ouro na Paralimpíada de Londres, em 2012, e campeão em 2020 da etapa da Hungria da Copa do Mundo.
Ingenito explica que a ADFP já trabalha há algum tempo com a captação de recursos federais. No entanto, encontra dificuldades pelas principais empresas contribuintes neste âmbito estarem no eixo Rio de Janeiro/São Paulo e preferirem investir em modalidades dentro dos seus estados de origem. “Com o Proesporte, fomos os pioneiros a captar recursos com empresas privadas paranaenses e apresentar a lei de incentivo estadual para elas” ressalta Ingenito.
Com o Proesporte, o coordenador enxergou um novo horizonte para a manutenção do esporte paralímpico. Na edição de 2018, por meio do programa, a esgrima em cadeira de rodas contou com o incentivo via Companhia Paranaense de Energia, a Copel, a maior patrocinadora do esporte no estado, e das empresas Beneck e Tintas Verginia. Foi autorizada à época a captação de um total de R$ 200 mil, conforme aprovado em edital. Assim, a ADFP manteve o projeto com 12 atletas treinando três vezes por semana na Academia Mestre Kato, outro celeiro da esgrima paranaense, entre os competidores convencionais (sem deficiência). Desses atletas, nove são veteranos e três iniciantes. Durante a execução dos recursos, realizada em 2019 e 2020, os iniciantes ganharam todo o equipamento para prática de esporte.
“A gente tinha equipamentos que estavam em fim de uso. Não dava mais. O Proesporte veio como um fôlego para substituirmos os materiais para continuar dando treinamento de qualidade e montarmos uma equipe técnica”, enfatiza Ingenito.
A treinadora do time, Tabea Alves, explica que o projeto possibilitou continuar o treinamento de alto rendimento e comprar equipamentos para iniciação de novos atletas. Além disto, Tabea ressalta a importância da equipe técnica que realiza os treinamentos presenciais e oferece outros individuais para aqueles com possibilidade de buscar medalhas.
Respeitando as contrapartidas previstas no edital, o pessoal da esgrima em cadeira de rodas também realizou visitas às escolas da região. Mais de 1800 crianças e adolescentes conheceram o paradesporto com essas ações. Ingenito reforça que “a ADFP é da comunidade para a comunidade e essas ações buscam incentivar o esporte e também fomentar a mudança social. As pessoas se sentem representadas com as nossas demonstrações de esgrima e conhecem a nossa modalidade”.
Em 2019, antes da série de restrições impostas em virtude da pandemia, a instituição, que não oferta somente projetos esportivos, chegou a realizar mais de 15 mil atendimentos gratuitos para pessoas com deficiência. Entre os serviços prestados: fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional, serviços de inclusão ao mercado de trabalho, cursos para capacitar as pessoas para retornar ao mercado de trabalho, entre outros.
Nos próximos meses, a ADFP começará a utilizar os recursos provenientes do edital do Proesporte de 2019.
VIDA DE ATLETA
O atleta Clodoaldo de Lima Zafatoski está há 12 anos na equipe de esgrima em cadeira de rodas. Ele relembra que, no início, os atletas terminavam o jogo e passavam as vestimentas usadas, os equipamentos e a cadeira de rodas (especial para competir) para outro companheiro de equipe que as usaria na sequência. “Hoje temos uniforme próprio. Demorei para ter essa conquista, por isso guardo com carinho e levo com orgulho as marcas que patrocinam a gente”, revela Zafatoski.
Saindo da sua zona de conforto, Zafatoski resolveu experimentar a modalidade, descobriu assim a autonomia e percebeu que poderia ser profissional. “Entrei e senti que poderia ser um atleta independentemente da idade, do peso, da deficiência. A esgrima em cadeiras de rodas é um dos esportes mais democráticos e que mais movimenta o corpo e a mente”, relembra.
Com a modalidade, ele viajou pelo Brasil. Foi atleta permanente da seleção por dois anos consecutivos e em vários esporádicos, conheceu e disputou com atletas internacionais e participou da Copa do Mundo de Esgrima em Cadeira de Rodas no Canadá. Zafatoski garante que a equipe é como uma família. Apesar de ser uma modalidade individual, o trabalho é em conjunto e ainda treinam com atletas convencionais. Entre seus principais rivais de categoria, está o amigo e também membro da ADFP, Sandro Colaço de Lima, que está desde 2010 no time e foi um dos representantes do país nos Jogos Paralímpicos no Rio.
Para Lima, fazer parte do time de esgrima em cadeira de rodas é extraordinário. “Somos a maior equipe do país. Sempre temos atletas em destaque nacional, sempre ocupamos os melhores lugares do ranking no Brasil – em todas as categorias” revela.
Lima sofreu uma lesão na coluna durante um acidente. O esporte entrou na sua vida como reabilitação. No entanto, a vida de atleta quebrou todos os paradigmas. “Você tem suas dificuldades e limitações, e no esporte esquece das suas limitações. Você se esquece que é uma pessoa com deficiência. Só foca nos seus sonhos e objetivos”, enfatiza.
Somando as conquistas de equipe, Lima conta que os atletas veteranos auxiliam os iniciantes, assim servindo de referência e dando continuidade para a modalidade no Paraná. “Ser um atleta é algo que levo muito a sério, principalmente quando ajudo os novos na modalidade. O exemplo vem por meio do meu trabalho e das minhas realizações. Não existem limites para seus sonhos”, finaliza.
Fonte da matéria: Paraná Esporte, 2021.